Qualquer pessoa pode fazer perguntas. O poder do jornalista é o de exigir resposta. Recusar a responder um jornalista leva a uma interpretação imediata que a resposta seria ainda mais danosa do que a falta dela. O entrevistado que não responde uma pergunta automaticamente aceita a insinuação do jornalista mas prefere não legitimá-la com uma resposta. Claro que o poder do jornalista pode ser usado de forma anti-ética e forçar insinuações falsas sem dar chance de defesa ao acusado.
O programa Roda Viva da TV Cultura de São Paulo entrevista o presidente do STF Gilmar Mendes nesta segunda feira. Seria uma grande oportunidade de exercer o poder do jornalismo e forçar o entrevistado a responder uma série de perguntas que pairam sem resposta na cabeça de muitas pessoas. Existem dúvidas sobre a ligação do Gilmar Mendes com o Daniel Dantas e seu advogado de defesa Nélio Machado, sobre a atuação política deste membro do judiciário em sua terra natal no estado de Goias, sobre a sua atuação empresarial em um instituto que possui contratos milionários com o governo e emprega outros ministros do STF, sobre o suposto grampo telefônico cujo áudio nunca foi apresentado, etc.
Denúncias sobre estes assuntos e perguntas sem resposta existem aos montes, principalmente na blogosfera. Seria surpreendente que o Gilmar Mendes se submetesse a uma entrevista onde se visse obrigado a explicar assuntos tão comprometedores. Entretanto a surpresa acaba ao se analisar a banca de entrevistadores. Nenhum dos quatro jornalistas convidados veio de veículos de imprensa que criticaram ou denunciaram alguma possível falcatrua na vida do magistrado. Pior, dois dos jornalistas convidados vieram de mídias envolvidas em algumas destas denúncias.
Este Roda Viva provavelmente não esclarecerá muitas coisas mas fortalece a idéia que existem perguntas que o presidente do STF não quer responder. O mais vergonhoso é perceber que a TV Cultura de São Paulo se presta a legitimar uma entrevista em que o poder jornalístico foi podado.
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