terça-feira, 20 de maio de 2008

Entre duas agendas

Gosto da forma didática que o Alon (clique aqui para ir no blog do Alon) escreve suas colunas. No texto a seguir ele explica a ligação entre vários assuntos atuais. Amazônia, reserva indígena, álcool combustível versus comida, recursos naturais versus padrões de consumo, as duas agendas do mundo para todos estes assuntos é explicada didaticamente.

Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje (20/05/2008) no Correio Braziliense.
Por Alon Feuerwerker

Até pouco tempo, debater a necessidade de firmar nossa soberania na Amazônia era considerado coisa de nacionalista lunático, de saudosista do Brasil Potência, de Policarpo Quaresma. Felizmente, esse tempo passou. Num mundo crescentemente ávido por energia e matérias-primas, não é mais possível subestimar ou tentar esconder a cobiça dos países desenvolvidos pelas riquezas da maior fonte planetária de recursos naturais renováveis e não-renováveis.

Infelizmente, a emergência do debate encontra-nos em situação algo parecida com a da China do Século 19, ainda que em escala menos crítica. Somos um grande país, plenamente capaz de oferecer progresso e bem-estar a sua população. Desde que decidamos usar para valer nossas potencialidades, de modo sustentado e sustentável. Permanecemos porém algo travados, por causa da sujeição da nossa elite política e intelectual a uma “agenda global” que de global não tem nada, pois reflete principalmente o desejo de manter um statu quo em que poucos países tomam para si a parte do leão do processo civilizatório.

As pressões para que nos sujeitemos a alguma modalidade de governança imperialista na Amazônia são uma versão atualizada da Guerra do Ópio, episódio em que o Império Britânico do Século 19, vitorioso nas Guerras Napoleônicas, impôs a uma China de joelhos o consumo da droga e a capitulação colonial, no âmbito da estratégia voltada a combater o protecionismo e impor a abertura dos mercados chineses. Parece familiar?

Todos os estudos sobre o aquecimento global coincidem no diagnóstico de que não será possível manter ambientalmente um planeta no qual os pobres, sejam pessoas ou países, atinjam o atual patamar de dispêndio material e energético dos ricos. O consenso acaba aí. A proposta dos ricos é que os pobres desacelerem o seu próprio consumo para ajudar a salvar a biosfera. Já para os pobres parece bem mais razoável que os ricos abram mão em parte do consumismo deles. Politicamente, é uma divergência insolúvel. E diferenças políticas que não podem ser resolvidas na base da conversa, ou da institucionalidade, acabam sendo decididas é no braço mesmo.

A cisão planetária ficou ainda mais nítida quando às ameaças ambientais de médio e longo prazo provocadas pela emissão de gases do efeito estufa somaram-se os riscos de curtíssimo prazo do agravamento da insegurança alimentar dos mais pobres, via inflação. Como a oferta mundial de comida não acompanha a explosão da demanda nos países emergentes, e como os Estados Unidos decidiram enveredar pela produção de etanol extraído do milho, os preços dos alimentos sobem firme e consistentemente.

Cada um responde a seu modo à crise alimentar. Para os ricos, novamente, a solução está em conter o consumo. Já para os candidatos a entrar no mercado e na civilização trata-se de aumentar a oferta. Vê-se portanto que não há uma agenda global, mas duas. E a disputa pelo futuro da Amazônia sintetiza e simboliza a queda de braço. Os ricos, com argumentos ambientais, resistem a que ela seja economicamente explorada em benefício dos pobres. Já para estes trata-se de descobrir como a Amazônia poderá, de modo ambientalmente responsável, contribuir para melhorar a vida de quem está hoje à margem dos padrões de vida do mundo desenvolvido.

Europeus e americanos querem que ocupemos nossas melhores terras com a cana-de-açúcar para produzir um etanol que ajude a diminuir a dependência deles da gasolina importada. Questionar o modelo de um carro por habitante? Nem pensar. Querem também a contenção da nossa fronteira agrícola, para que nossas plantas nativas, disciplinadamente e para todo o sempre, fixem o gás carbônico lançado na atmosfera pelas sociedades de bem-estar. No meio do sanduíche, o lobby do álcool martela o argumento pretensamente tranquilizador de que há terras sobrando para produzir ao mesmo tempo todo o biocombustível de que precisam os ricos e toda a comida demandada pelos pobres.

Como nem mesmo eles acreditam nisso, nota-se aqui e ali a escalada militar dos Estados Unidos na nossa região. Para agravar a cobiça, tudo indica que o Brasil emergirá neste século como um megaprodutor de petróleo. Daí por que os militares reajam com nervosismo às pressões autonomistas das nações indígenas na fronteira norte. Todas as peças se encaixam.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Tocando em frente

Composição: Almir Sater e Renato Teixeira

Ando devagar porque já tive pressa
Levo esse sorriso porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe
Só levo a certeza de que muito pouco eu sei
Eu nada sei

Conhecer as manhas e as manhãs,
O sabor das massas e das maçãs,
É preciso amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir,
É preciso a chuva para florir

Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha e ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou
Estrada eu sou

Conhecer as manhas e as manhãs,
O sabor das massas e das maçãs,
É preciso amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir,
É preciso a chuva para florir

Todo mundo ama um dia todo mundo chora,
Um dia a gente chega, e no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz
E ser feliz

Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir,
É preciso a chuva para florir

Ando devagar porque já tive pressa
Levo esse sorriso porque já chorei demais
Cada um de nós compõe a sua história,
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz
E ser feliz

Maria Bethania - Tocando em frente

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Commencement


Commencement é o nome da cerimônia de formatura de alunos de graduação e pós-graduação. É uma cerimônia chata, na minha opinião, onde os alunos são chamados para receber um canudo que não vale nada. Igual a colação de grau. O interessante é uma cerimônia só para os alunos de doutorado em que os orientadores colocam uma faixa nos seus alunos. Nesta cerimônia os alunos vestem uma roupa característica da universidade que no nosso caso é vermelha e os orientadores vestem uma roupa e faixa características da universidado onde eles conquistaram o título de doutor. A foto abaixo mostra o momento inicial desta cerimônia, quando os orientadores estão se dirigindo aos seus lugares. Devido a diversidade de tipos e cores de roupas o lugar fica parecendo um baile a fantasia.


Esta cerimônia ocorre apenas uma vez por ano e sempre em maio que é o fim do ano letivo aqui. Eu estive presente no commencement do Alexandre, em maio de 2006,

do Madhavan, em maio de 2007,

e agora na do João, em maio de 2008.

terça-feira, 13 de maio de 2008

There will be blood (Sangue Negro)

Assisto filmes em dvd umas 2 vezes por semana. A conveniência do Netflix é surpreendente. Faço minha lista através de um website muito bem planejado, recebo os filmes pelo correio e devolvo também pelo correio. Coloquei "There will be blood" na minha lista por causa do diretor Paul Thomas Anderson, que fez Magnolia, e acabou sendo um dos melhores filmes que já assisti.
A sinopse diz que o filme conta a história de um perfurador de poços de petróleo e um líder evangélico local. Na minha opinião "There will be blood" é interessante pelos personagens e o efeito das emoções no domínio de suas ações e diálogos. As cenas em que os personagens são obrigados a engolir o orgulho por causa da sua ambição são fantásticas. Eu peguei duas cenas no youtube e coloquei a seguir. Não é a toa que o Daniel Day-Lewis ganhou o oscar de melhor ator neste ano. O outro ator é o Paul Dano que também interpreta bem. Quem quiser manter a surpresa para quando assistir o filme pode parar de ler por aqui e não precisa assistir as cenas. Eu acho que o que vou contar não diminui o interesse do filme. A primeira cena mostra o momento em que o homem do petróleo, Daniel Plainview, vai a igreja para ser batizado. O batismo foi uma condição imposta por um habitante local para permitir que um duto passasse em suas terras. Daniel Plainview demonstra claramente que aquilo está sendo feito contra sua vontade e seu orgulho o impede de aceitar a vontade do lider evangélico inicialmente. A medida que é forçado a abandonar o orgulho e se humilhar parece que ele começa a escutar suas próprias palavras e finalmente acredita que é um pecador por ter abandonado o filho. Ele grita "I've abandoned my child! I've abandoned my boy!". Mesmo depois de gritar que é pecador e levar tapas na cara o orgulhoso Daniel Plainview fala baixo "There is a pipeline.", com um sorriso orgulhoso, para mostrar que só se sujeitou a aquilo tudo para conseguir o que queria.




Na cena seguinte os papeis se invertem. Agora é o evangélico, Eli Sunday, que precisa se humilhar para fazer negócios com o empresário. Este aproveita a situação para devolver na mesma moeda o que sofreu na igreja. Ordena que Eli admita que é um falso profeta e que Deus é uma superstição. O orgulho agora está com o evangélico que precisa repetir diversas vezes a frase "I am a false prophet!" até que saia algo convincente. A humilhação é a única forma de vencer as defesas do orgulhoso.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

San Pedro


Pessoas ligadas à Fulbright (uma das agencias que me financiam) organizam passeios para intercambio cultural dos bolsistas regularmente. Estes passeios envolvem visitas a empresas, palestras, jantares em casas de famílias americanas ou passeios turísticos. Semana passada um casal de ex-bolsistas Fulbright organizaram um passeio turístico em um aquário em San Pedro e um museu de baleias em Palos Verdes seguido por um jantar em sua casa.
Eu, outros bolsistas e suas famílias encontramos no campus da UCLA no domingo de manhã e pegamos um ônibus alugado pela Fulbright para nos transportar durante o dia inteiro. A visita ao aquário de San Pedro me lembrou as aulas de laboratório de biologia no Dom Silvério. O responsável pelo aquário, Mike, se esforçava para despertar nosso interesse na vida marinha do sul da California contando curiosidades técnicas de biologia. Os visitantes, no entanto, não davam a mínima para o que ele falava e ficavam dando petelecos nos vidros dos aquários pra ver se os peixes mexiam. Eu gravei um vídeo da hora que o Mike falava, com grande entusiasmo, da expectativa de vida das estrelas marinhas:




Depois da visita ao interior do prédio do aquário comemos sanduíche do Subway que os organizadores do passeio trouxeram no porta-malas do seu carro e visitamos uma área de piscinas naturais. Esta parte do passeio foi legal. Um engenheiro elétrico, Bob, que ficou rico investindo em imóveis e hoje curte a vida estudando ecossistemas marinhos contou curiosidades sobre a vida sexual dos animais daquela região para mim e para um casal de brasileiros. Além do mais as piscinas são bonitas mesmo.



Depois do passeio no aquário e nas piscinas naturais de San Pedro seguimos para um museu de baleias em Palos Verdes. No museu tivemos novamente apresentações entusiasmadas de um geólogo e uma especialista em baleias. Contaram sobre fósseis, constituição do solo daquela região e sobre caça a baleias de muito tempo atrás. A única coisa que eu prestei atenção foi que existe um grupo de voluntários que passam o dia naquele museu, de binóculos, observando o mar e contando quantas baleias passam. Fazem o censo das baleias. A foto a seguir foi tirada deste grupo.


A visita a este museu vale a pena pela vista do local.



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