Copiei este texto do excelente blog do Pedro Dória: www.pedrodoria.com.br
Algo de muito importante está acontecendo na blogosfera brasileira desde que Luis Nassif começou a publicar suas reportagens a respeito da revista Veja: a conversa mudou de patamar. Das picuinhas habituais entre blogs de esquerda e de direita, entrou no bate-boca algo novo.
Informação.
A picuinha política habitual do ‘meu roubo é menor que o seu’ é capaz, no máximo, de dizer que o outro é burro por ser de esquerda. Ou por ser de direita, tanto faz. Mau caráter por apoiar o governo passado. Ou o atual. O debate entre esquerda e direita não tem discutido qual o melhor projeto de educação para o Brasil. Ignora como deve ser feita uma redistribuição tributária. Ele é capaz de dar apelidos criativos para programas de uma administração ou de outra mas após a graça do apelido, de crítica criteriosa e bem argumentada não sobra muito. Uma pena.
A esquerda não gosta da Veja porque a revista é de direita. Ou porque se opõe ao governo corrente. São, ambos, argumentos de péssima qualidade. Primeiro porque num ambiente de plena liberdade de imprensa, um órgão de comunicação pode defender o tom ideológico que bem entender. Segundo porque imprensa tem mesmo que ser de oposição a qualquer governo. Terceiro porque o governo não precisa de defensores. Tem poder. Muito poder. Poder suficiente para voltar-se com raiva contra qualquer órgão de imprensa e tentar sufocá-lo, recusando-se a publicar anúncios. É o tipo de poder que governo nenhum deveria usar. (No Brasil, a federação é a maior anunciante.) O critério único para a publicação da publicidade estatal deveria ser circulação. Quem atinge mais leitores deveria ser privilegiado. É o tipo de poder que, por hábito, os governos sempre usam.
A obrigação que um órgão de imprensa tem para com seus leitores é o bem informar. Ela pode ter um ponto de vista, mas deve apresentar toda informação necessária para que o leitor possa fazer uma avaliação ele próprio dos fatos. Isto Veja não tem feito. Seleciona a informação que lhe convém. Não é a tradição da revista. É uma inovação. As reportagens de Nassif contam o como, o quando, o quem e o por quê.
Fatos não existem no vácuo. Têm contexto, interpretação e ponto de vista. Algumas informações que Nassif apresenta talvez venham a ser contestadas. É uma briga dura a que virá. Mas quem sai ganhando é o leitor pelo serviço prestado. Porque agora ele tem informação para sustentar o que pensa. O leitor do outro lado por certo está circulando os blogs oficiais ou oficialescos da direita procurando contra-argumentos. E alguém deveria ser capaz de oferecê-los. Quando o debate sobe um degrau, o da informação e não apenas da picuinha, o país ganha.
Nassif recorreu a um instrumento tradicional, o da reportagem, para levar a seus leitores a informação que coletou, certamente, após muitas entrevistas. (Dá trabalho informar.) Mas como foi via blog que divulgou, a blogosfera melhora. Temos uma blogosfera que não costuma informar muito, quanto mais produzir informação do zero. A esperança, agora, é que seguindo ele, sem histeria, alguém pegue as atividades da Secretaria de Comunicação do atual governo – ou mesmo do governo passado – e mostre seus hábitos. Quem é favorecido, quais seus critérios de distribuição de propaganda, qual a linha editorial habitual dos agraciados, quanto circulam.
Costumamos, jornalistas, cobrar das estruturas do governo e das grandes empresas que sejam transparentes. A imprensa – e, sim, isto inclui blogs – tem uma das tarefas mais delicadas da democracia. É a ela que cabe informar. É através dela que o público toma conhecimento do que acontece. Sem uma imprensa livre não é possível formar opinião. A mesma transparência que a imprensa cobra de governo e empresas deve ser cobrada de volta.
Provavelmente vai ter briga e vai ter polêmica. É do tipo saudável.
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